Em tempos de redes sociais e marketing digital, muitos médicos têm investido na internet para divulgar seus serviços e conquistar pacientes. No entanto, o que parece uma simples escolha de palavras pode trazer sérias consequências profissionais.
Foi exatamente isso que aconteceu com o Dr. Lucas (nome fictício), um jovem médico apaixonado pela área de procedimentos estéticos. Recém-formado e buscando espaço no mercado, ele decidiu usar o Instagram para apresentar seu trabalho. Para isso, colocou na bio: “MÉDICO – DERMATOLOGIA ESTÉTICA”. A intenção era atrair pacientes com uma linguagem alinhada ao seu público-alvo. Mas o que parecia inofensivo, quase resultou em uma penalização ética.
O uso indevido do termo “especialista”
Muitos médicos cometem o mesmo erro de Lucas: utilizam expressões que sugerem uma especialidade médica sem, de fato, possuírem o RQE (Registro de Qualificação de Especialista) correspondente. No caso dele, não era dermatologista, nem tinha o registro exigido para se apresentar como tal.
A consequência veio em forma de uma notificação do Conselho Regional de Medicina (CRM). O uso de especialidade médica sem o devido registro configura infração ética e pode levar à advertência, censura, suspensão ou até à cassação do CRM.
Onde está o erro?
O erro está na comunicação. Embora o objetivo seja atrair pacientes e se posicionar, o médico não pode induzir o público ao erro, mesmo que de forma involuntária. Expressões como “ginecologia estética”, “cardiologia integrativa” ou “dermatologia estética” só devem ser usadas se o profissional tiver o registro necessário.
No caso do Dr. Lucas, o CRM entendeu que ele estava se promovendo como dermatologista, o que não era verdade. Essa conduta fere os princípios éticos da medicina e pode ser vista como uma tentativa de se beneficiar indevidamente de uma especialidade que ele não possui.
A importância da orientação jurídica
Felizmente, Lucas procurou orientação jurídica e ajustou sua comunicação antes que a penalidade fosse formalizada. Esse tipo de acompanhamento é fundamental para garantir que o marketing médico esteja em conformidade com o Código de Ética Médica, as resoluções dos CRMs e até as normas do CFM (Conselho Federal de Medicina).
A legislação brasileira é clara: não basta ser médico, é preciso comunicar com responsabilidade. Isso vale para bios, legendas, anúncios, vídeos, posts, e até para os termos usados nas legendas dos stories e reels.
Médicos podem usar redes sociais, mas com cuidado
A presença nas redes sociais não é proibida — pelo contrário, pode ser uma ferramenta excelente para educação do paciente, informação de qualidade e fortalecimento de marca. No entanto, isso deve ser feito com zelo, transparência e dentro dos limites éticos da profissão.
Não existe “liberdade criativa” quando se trata de profissões regulamentadas. Termos técnicos, especialidades e promessas de resultado devem ser usados com extremo cuidado, sob risco de comprometer não só a reputação, mas a própria habilitação do médico.
Se você é médico e deseja se posicionar com segurança nas redes sociais, procure a orientação de um advogado especialista em Direito Médico e Ética Profissional. Uma comunicação alinhada à legislação protege sua carreira e sua credibilidade.
A Dra. Carolina Di Marzio é advogada especialista em Direito da Saúde e atua diretamente com profissionais da área médica. Em seus canais, ela compartilha orientações valiosas para quem deseja atuar com ética e segurança jurídica.